"Façam por não verem mais"
MOTE
Vós, ó mães idolatradas,
Façam por não verem mais
Crianças abandonadas,
Tísicas — nos hospitais.
GLOSAS
Sim, vós, ó mães carinhosas,
Criai as vossas filhinhas,
Educai-as de criancinhas,
Mas não em leis religiosas,
Que essas leis são perigosas,
E p'los homens inventadas.
Não sigam, pois, enganadas
Pelos padres sem consciência,
E amem o deus-Providência,
Vós, ó mães idolatradas!...
Se quereis ver a religião,
Já noutro tempo atrasado,
Leiam um livro chamado
«Mistérios da Inquisição»...
Lendo aí, compreenderão
Como as pessoas reais
Mandaram fuzilar pais
E mães sem fazerem mal.
Padres e gente real,
Façam por não verem mais.
E quando se saiba amar
Como irmãos, em toda a terra,
Bombas, revoluções e guerra
Para sempre hão-de acabar;
Nem mais se hão-de encontrar
Mulheres «matriculadas» —
Infelizes que, desonradas,
Ali procuram a morte,
Deixando, aos vaivéns da sorte,
Crianças abandonadas.
Hão-de acabar os ladrões,
Os patifes, os mariolas —
Quando se fizerem escolas
Das igrejas e prisões.
Hão-de acabar os patrões,
Que são prejudiciais —
Comprando bons enxovais
P'ràs suas filhas — enquanto
As dos pobres vertem pranto,
Tísicas — nos hospitais.
António Aleixo, in "Este Livro que Vos Deixo..."
3 comentários:
Bom dia,
Não conheço este poema como sendo da autoria de António Gedeão.
Irei consultar a Biblioteca Nacional de Portugal e a Sociedade Portuguesa de Autores.
Cristina Carvalho
Cara Cristina,
Um gosto! enorme!
Agradeço desde já a atenção que deu ao que aqui vou semeando e à devida correcção que faz.
Tem toda a razão. O poema é de António Aleixo e pertence à obra: "Este livro que vos deixo". (Devo ter trocado os "Antónios" porque na fonte onde o li e copiei estava a indicação correcta do autor). :P
O seu a seu dono!
Já fiz a devida emenda.
Sincero cumprimento, Cristina.
Eu agradeço a correcção!
os meus cumprimentos
Cristina Carvalho
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