sábado, 5 de abril de 2014

Poesia - "A guerra do sentir na paz das palavras"

A extenuação obriga-me a procurar a paz do sono...
A natureza que tenho leva-me, antes disso, à contenda do sentir.
Teimo em querer viver…


É uma espécie de coragem néscia e vã esta,
a de verter no branco e vazio do papel do tempo
umas quaisquer palavras minhas.
Um tonto que procura a batalha, portanto.
Podia valer-me das dos outros, melhores e maiores.
Mas não seriam as minhas. Teriam nascido de outras guerras,
e eu, teimoso, teimo ter uma luta que seja só minha.

Nem sempre precisam de contenda, as palavras.
Mas estas que busco, de tão enredadas em mim,
só à força de severa peleja se mostrarão.
Acresce ainda a dura disputa que será juntá-las,
numa sintaxe e gramática suficientemente capazes
da sempre difícil aprovação do meu juízo.

Estas que procuro, tão cheias me parecem aos olhos da alma,
que sinto ser impossível deixá-las em mim perdidas.
Bem sei que não passa de uma ilusão… fantasias da razão.
São, objetivamente, uma subjetividade minha.
Nunca serão grandes senão em mim. Aos outros,
serão apenas palavras de melhor ou pior combinação estética.

Numa realidade cientifica que têm
mais não são do que formas codificadas
de tentar expressar o que não tem expressão.
Noutra realidade paralela dentro de mim
alongam-se do silêncio até ao grito do que sou.

Não são princípios de nada, nem fins.
São meios. Por isso, estas estão para sempre condenadas
a viver entaladas no sentir que há no viver,
à espera que a consciência as veja
e a determinação e atenção peguem nelas.

No principio é uma vontade qualquer que as vasculha por lá,
no emaranhado de sentir que a alma tem em mim.
No fim, é um intuito qualquer que as escolhe.
O resto fica nas mãos da inteligência que cada um tem.
Essa é a única ferramenta capaz.

Só ela é competente para as ver no caldo químico que a alma é:
de procurar os átomos de que são feitos os sentimentos;
de escolher quais se ligam e fazem moléculas maiores;
de combinar moléculas e formar substâncias com propriedade,
que juntas fazem a matéria do que sou por dentro.
Sinto e penso, penso e sinto.

Vivo assim…
com a propriedade de cada substância que a minha alma tem
e, às vezes, penso até que vi e compreendi a matéria que sou.

Jorge Araújo

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