"A criança que fui chora na estrada.
Deixei-a ali enquanto vim ser quem sou;
Mas hoje, vendo que o que sou é nada,
Quero ir buscar quem fui onde ficou.
Ah, como hei-de encontrá-lo? Quem errou
A vinda tem a regressão errada.
Já não sei de onde vim nem onde estou.
De o não saber, minha alma está parada.
Se ao menos atingir neste lugar
Um alto monte, de onde possa enfim
O que esqueci, olhando-o, relembrar
Na ausência, ao menos, saberei de mim,
E, ao ver-me tal qual fui ao longe, achar,
Em mim um pouco de quando, era assim"
Ah, como hei-de encontrá-lo? Quem errou
A vinda tem a regressão errada.
Já não sei de onde vim nem onde estou.
De o não saber, minha alma está parada.
Se ao menos atingir neste lugar
Um alto monte, de onde possa enfim
O que esqueci, olhando-o, relembrar
Na ausência, ao menos, saberei de mim,
E, ao ver-me tal qual fui ao longe, achar,
Em mim um pouco de quando, era assim"
(Fernando Pessoa, 22-09-1933)
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