sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

O Xisto de Burgess


Nas montanhas Rochosas canadianas formou-se há 530 milhões de anos o Xisto de Burgess, onde jazem os restos de um mar antigo que albergou mais seres vivos do que todos os que povoam actualmente os nossos oceanos - criaturas inacreditavelmente bem conservadas, como o estranho Opabinia, com cinco olhos, ou o Sidneyia, cujo tubo digestivo revela ainda a última refeição que tomou. A sua descoberta data do início do século por Charles Walcott

                Este xisto reveste-se de grande importância para a paleontologia porque data de um tempo em que a vida na Terra passou por modificações significativas. Esse acontecimento é conhecido hoje pela expressão, “explosão câmbrica” - (explosão de formas de vida, entenda-se). A explosão Câmbrica foi o aparecimento relativamente rápido, (em termos geológicos), dos filos mais importantes à cerca de 530 m.a. atrás, conforme encontrado no registo fóssil. Este surgimento foi acompanhado por uma grande diversificação de outras formas de vida, incluindo animais, fitoplâncton, e calcimicróbios. Até à cerca de 580 m.a. a maioria dos organismos eram simples, compostos de células individuais ou ocasionalmente organizadas em colónias. Nos 70 ou 80 m.a. seguintes a taxa de evolução foi acelerada em uma ordem de magnitude (conforme definido em termos da relação entre extinção e origem de espécies) e a diversidade da vida começou a parecer-se com a atual. É neste período que ficam definidos os grandes grupos de seres vivos que hão-de chegar até ao presente .

Este acontecimento da explosão câmbrica, foi alvo da atenção (sempre atenta) de Charles Darwin, que lhe dedicou uma secção inteira d´A Origem das espécies.  A grande variedade de organismos marinhos nessa época sugere que já se tivesse desenvolvido uma cadeia alimentar estruturada, semelhante à que se encontra nos modernos ecossistemas marinhos. Aliás, esta fauna caracteriza-se por apresentar uma variedade maior de organismo do que a encontrada nos dias de hoje, nomeadamente no que se refere a diversidade de grupos anatómicos de seres vivos. Nos fósseis encontrados em Burgess encontram-se alguns cujos "planos corporais" não encaixam em nenhums dos grandes grupos de seres vivos, ou então, apresentam características que se identificam simultaneamente com dois grupos.
Citando Stephen Jay Gold, no seu livro "A vida é bela" - "Como principal atração, o xisto de Burgess ensina-nos uma incrível diferença entre a vida passada e a presente: com muito menos espécies, o xisto de Burgess contém uma disparidade de planos anatómicos que excede em muito o conjunto existente atualmente em todo o mundo".


 Reconstituição do Marrella
                                                    



Fóssil de Marrella - trata-se um fóssil de um artrópode semelhante a um camarão (embora apresente características corporais distintas das dos crustáceos modernos)

    

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