sábado, 29 de dezembro de 2012

Cromossoma 15

No Museu do Prado em Madrid, estão pendurados um par de quadros de Juan Carreno de Miranda (pintor da corte castelhana do sec. XVII), chamados La monstrua vestida e La monstrua desnuda.

A rapariga retratada chamava-se Eugenia Martinez Vallejo e tinha 5 anos. Apresenta sinais evidentes de obesidade, mãos e pés pequenos, tamnho corporal exagerado face à idade e olhos e boca com formas “estranhas”. Foram provavelmente estas mesmas características que levaram J. Miranda a retratá-la.

 La monstrua vestida e La monstrua desnuda (Juan Carreno de Miranda)

Na altura não o poderiam saber mas essas características constituem hoje o diagnóstico de uma doença genética rara - síndrome de Prader Willi - identificada em 1956 por médicos suiços. Esta condição define crianças molengonas de pele clara, que inicialmente recusam mamar e mais tarde apresentam um apetite insaciável, sendo por isso que ficam obesas. Têm mãos e pés pequenos e ligeiro atraso mental, apresentando, entanto, uma extraordinária capacidade para juntar peças num quebra-cabeças.

A causa genética da síndrome é a falta de uma parte do cromossoma 15. No entanto, tais características apenas se manifestam se a parte em falta do dito cromossoma for de proveniência paterna.
Se acaso o segmento de ADN do cromossoma 15 for de proveniência materna então aparecem outro conjunto de características que agregadas constituem um diagnóstico de síndrome de Algelman. Nestas, os indivíduos apresentam aspetos quase opostos da de Prader willi - magros, tensos, hiperativos, cabeças pequenas, são bem dispostos, movem-se aos solavancos, não aprendem a falar e têm atraso mental significativo.

Estamos a falar do mesmo gene ou conjunto deles, não de formas alélicas diferentes. O que é notável aqui é que o gene “se lembre” da sua história. Isto é, não esquecendo que os genes são entidades biológicas que “viajam” de geração em geração, umas vezes presentes em organismos femininos outras em masculinos, não deixa de ser extraordinário pensar que esse facto possa vir a ser relevante na forma como o gene se expressa na geração seguinte, de acordo com a sua proveniência paterna ou materna. Isto acontece porque os genes são “marcados” quimicamente durante a conceção - nas células onde o gene está ativo a versão marcada do gene é “ligada” desencadeando todo o conjunto de eventos que levam à expressão das características respetivas (Prader Willi ou Angelmam).

Ainda muito falta saber sobre os genes e a molécula de ADN, mas exemplos como este mostram-nos que os genes estão longe de serem entidades simples.

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