quinta-feira, 25 de outubro de 2012

domingo, 21 de outubro de 2012

Manuel António Pina

Há já uns bons anos que acompanhava a sua crónica na última página do Jornal de Notícias.
Era aliás ponto de honra começar (e às vezes acabar!) a leitura do jornal ali naquele cantinho. Umas vezes por falta de tempo, outras porque a sua crónica resumia uma boa parte do jornal. Deixo as caracterizações e conclusões para outros que o conheciam melhor. Para mim era um prazer lê-lo... sempre. Fica aqui a minha humilde homenagem a Manuel António Pina através de uma das suas últimas crónicas no JN, que é aliás tão brilhante como outras que ali escreveu.


"O leitor que, à semelhança do de O'Neill, me pede a crónica que já traz engatilhada perdoar-me-á que, por uma vez, me deite no divã: estou farto de política! Eu sei que tudo é política, que, como diz Szymborska, "mesmo caminhando contra o vento/ dás passos políticos/ sobre solo político". Mas estou farto de Passos Coelho, de Seguro, de Portas, de todos eles, da 'troika', do défice, da crise, de editoriais, de analistas!
Por isso, decidi hoje falar de algo realmente importante: nasceram três melros na trepadeira do muro do meu quintal. Já suspeitávamos que alguma coisa estivesse para acontecer pois os gatos ficavam horas na marquise olhando lá para fora, atentos à inusitada actividade junto do muro e fugindo em correria para o interior da casa sempre que o melro macho, sentindo as crias ameaçadas, descia sobre eles em voo picado.
Agora os nossos novos vizinhos já voam. Fico a vê-los ir e vir, procurando laboriosamente comida, os olhos negros e brilhantes pesquisando o vasto mundo do quintal ou, se calha de sentirem que os observamos, fitando-nos com curiosidade, a cabeça ligeiramente de lado, como se se perguntassem: "E estes, quem serão?"
Em breve nos abandonarão e procurarão outro território para a sua jovem e vibrante existência. E eu tenho uma certeza: não, nem tudo é política; a política é só uma ínfima parte, a menos sólida e menos veemente, daquilo a que chamamos impropriamente vida."                               JN - 2012-08-01

 Obrigado Manuel António Pina.